Ao longo da história, construiu um estigma social de que o câncer é uma doença incurável, inevitavelmente fatal e de que não existem tratamentos eficazes.
Infelizmente, esse cenário cria uma perspectiva de vida aos pacientes e familiares abalada pelo sentimento de medo diante das experiências indesejadas que terão que viver.
Falar sobre o câncer é fundamental para que possamos cada vez mais diminuir o tabu em torno da doença e daqueles que a vivenciam. E nós, profissionais da saúde, somos os principais porta-vozes!
Por isso, em homenagem ao Dia Mundial do Câncer (04/02), preparamos uma matéria mostrando como foi a construção desse estigma social e a importância em falar sobre o tema. Continue a leitura e confira!
Construção do estigma social sobre o Câncer
Os gregos criaram o termo estigma para referir sinais corporais com alguma coisa ruim ou que fugisse do comum. Essa ideia permaneceu ao longo do tempo e ainda hoje a sociedade estabelece formas de classificar as pessoas e os atributos.
Com isso, quando o estranho (aquilo que foge do habitual) nos é apresentado, pode surgir a percepção de que, por ter uma característica que o torna diferente, o portador dessa característica deixa de ser considerado como alguém comum e total, reduzindo a pessoa àquela característica.
Na antiguidade, a crença era que o câncer resultava de espíritos do mal, punição divina ou forças da natureza desequilibradas
Já no final do século XVII, com o conhecimento do sistema linfático, passou-se a atribuir o câncer a diversos distúrbios da linfa. Época marcada pelo medo e preconceito, pois os possíveis portadores da doença eram afastados da sociedade, acreditando-se que o “mal” pudesse ser contagioso. E por vezes, os pacientes não eram aceitos nem em hospitais.
Durante o século XX, mesmo com o avanço da ciência e evolução dos conceitos e estudos, o câncer permaneceu como uma doença temida e um “grande mal absoluto”, porque os pacientes estavam sentenciados à morte por falta de possibilidade de tratamento eficaz. Como resultado social deste “mal”, a doença passava a ser ocultada por vergonha e temores, inclusive por medo da exclusão.
Hoje em dia ainda existem mitos e crenças de que o câncer é uma doença inevitavelmente fatal e de que não existem maneiras de se prevenir ou tratamentos eficazes.
Por conta desse estigma construído ao longo da história, muitos pacientes se sentem um “peixe fora d’água” em ambientes profissionais, familiar ou com amigos. Esses mitos permanecem e se perpetuam na medida em que a temática do câncer é evitada no meio social.
Falar sobre o câncer é fundamental para que possamos cada vez mais diminuir o estigma em torno da doença e daqueles que a vivenciam, evitando o surgimento de sentimentos de culpa e vergonha pelo diagnóstico ou efeitos colaterais do tratamento.
Temos a responsabilidade em transformar o contexto que ainda estigmatiza o prognóstico da doença e que, por conseguinte, fragiliza as pessoas envolvidas nesse processo.
Referência Bibliográficas:
A subjetividade do câncer na cultura: implicações na clínica contemporânea. Revista da SBPH v.10 n.1 Rio de Janeiro, jun de 2007.
O estigma do câncer e a importância de falar sobre isso. Enfrente – Instituto de Psico-Oncologia. Fev de 2018.