Diabetes e Hormonização Trans: avaliando os riscos

No mês de conscientização do diabetes e com o Congresso Online Multiprofissional de Saúde Trans se aproximando, é vital abordarmos a intersecção entre diabetes e hormonização trans. Profissionais de saúde muitas vezes se deparam com a dúvida: a terapia hormonal aumenta o risco de diabetes mellitus (DM) entre pessoas trans?

A hormonização, parte essencial do tratamento de afirmação de gênero, envolve o uso de esteroides sexuais do gênero com o qual a pessoa se identifica. Os efeitos destes hormônios sobre o metabolismo da glicose são complexos e dependem de uma série de fatores interligados, incluindo a distribuição de gordura corporal e a massa muscular [3].

Quais os riscos envolvendo a Diabetes e Hormonização Trans?

Investigações recentes expandem nossa compreensão sobre como a terapia hormonal pode influenciar o risco de diabetes tipo 2 (T2DM) nessa população.

No estudo realizado por Islam et al., foi observado que pessoas transfemininas podem apresentar um risco ligeiramente maior de T2DM em comparação com mulheres cisgênero. Contudo, essa diferença não foi significativa quando comparadas a homens cisgênero. Mais importante, o estudo concluiu que não há evidências suficientes para atribuir ocorrência de T2DM ao uso da terapia hormonal [1].

Em paralelo, a pesquisa conduzida por Van Velzen et al. corrobora essa visão, sugerindo que, apesar das alterações metabólicas relatadas em terapias de feminização e masculinização, a incidência de diabetes em indivíduos transgêneros após a iniciação da terapia hormonal não foi diferente em comparação com a população geral [2].

Entendendo a fisiologia por trás dos tratamentos de afirmação de gênero, sabemos que tanto o estrogênio quanto a testosterona desempenham papéis distintos no metabolismo dos carboidratos. As terapias de feminização tendem a apresentar um efeito agravante sobre a sensibilidade à insulina, enquanto as terapias de masculinização mostram resultados conflitantes, variando de efeitos positivos, neutros e até negativos sobre a sensibilidade à insulina [3].

Portanto, embora a hormonização possa afetar o metabolismo, os estudos atuais indicam que não há um aumento significativo na prevalência de T2DM entre as pessoas trans que se submetem a esses tratamentos. Isso é reconfortante, pois ressalta que a terapia de afirmação de gênero, essencial para o bem-estar de muitos indivíduos trans, pode ser administrada com um entendimento mais claro de seus efeitos sobre a saúde metabólica.

Conclusão

Diante dos dados atuais, é crucial que profissionais de saúde continuem a monitorar a saúde metabólica dos seus pacientes transgêneros, mas também é importante reconhecer que a terapia hormonal por si só não parece aumentar substancialmente o risco de diabetes. O cuidado integral e individualizado permanece sendo a chave para uma saúde trans inclusiva e eficaz.

Referências Bibliográficas:

  1. Islam N, Nash R, Zhang Q, Panagiotakopoulos L, Daley T, Bhasin S, et al. Is There a Link Between Hormone Use and Diabetes Incidence in Transgender People? Data From the STRONG Cohort. J Clin Endocrinol Metab. 2022;107(4):e1549-e1557.
  2. Van Velzen D, Wiepjes C, Nota N, Van Raalte D, De Mutsert R, Simsek S, et al. Incident Diabetes Risk Is Not Increased in Transgender Individuals Using Hormone Therapy. J Clin Endocrinol Metab. 2022;107(5):e2000-e2007.
  3. Milionis C, Ilias I, Venaki E, Koukkou E. Glucose Homeostasis, Diabetes Mellitus, and Gender-Affirming Treatment. Biomedicines. 2023;11(3):670.