O cuidado continuado de mulheres trans traz alguns desafios, em especial no que diz respeito a triagem de PSA, especialmente em mulheres que já realizaram cirurgia genital, pois sabemos que a próstata é mantida mesmo após a cirurgia de afirmação de gênero. Isso cria a necessidade de uma triagem contínua para o câncer de próstata. No entanto, o entendimento sobre a triagem do câncer de próstata nesse grupo ainda é limitado.
Na prática clínica, nos perguntamos: qual será a recomendação de triagem para essas mulheres? Devemos seguir as mesmas diretrizes de homens cis? Mulheres com e sem uso de hormônio e com e sem histórico de cirurgia genital são iguais nessa triagem? Quais os valores de PSA considerar, especialmente naquelas em uso de medicação antiandrogênica?
Diante de tantos questionamentos, levantamos referências na literatura e encontramos um estudo recente de revisão narrativa não sistemática, abordando os desafios sobre essa questão (1).
Abaixo um resumo do trabalho:
Desafios na Triagem do PSA em Mulheres Transgênero:
As mulheres transgênero representam um grupo único quando se trata da triagem do PSA para o câncer de próstata. As terapias hormonais de afirmação de gênero (THAG) têm um impacto significativo nos níveis de PSA, tornando a interpretação dos resultados um desafio. Além disso, a literatura médica atual não oferece diretrizes claras para a triagem do PSA em mulheres transgênero, deixando os médicos sem uma base sólida para a tomada de decisões clínicas.
Dados atuais e lacunas no conhecimento:
Através de uma revisão narrativa não sistemática das publicações disponíveis até junho de 2022 (1), foi possível identificar algumas tendências e desafios. Os dados dos relatos de caso sugerem que as mulheres transgênero com câncer de próstata podem apresentar uma doença mais agressiva. Esses cânceres podem ter sido pré-existentes antes do início da THAG ou podem ser resistentes à castração.
Futuras direções e pesquisas necessárias sobre triagem do PSA:
Estamos apenas no início de nosso entendimento sobre a triagem do PSA em mulheres transgênero. Algumas das principais áreas que necessitam de pesquisa adicional incluem:
- Compreender os riscos e benefícios da triagem do PSA em mulheres transgênero;
- Mitigar potenciais efeitos psicológicos negativos da triagem do PSA;
- Estabelecer valores basais de PSA para aqueles em THAG e determinar quais valores devem ser considerados “elevados”;
- Determinar quando iniciar a triagem do PSA para aqueles em THAG;
- Estabelecer a precisão dos biomarcadores para aqueles que estão passando por THAG.
Conclusão
Como pode ser observado, ainda não temos respostas para a maioria das perguntas sobre a triagem de CA de próstata em mulheres trans. Com isso, a necessidade de diretrizes claras e baseadas em evidências para a triagem do PSA em mulheres transgênero é urgente.
A pesquisa adicional é vital para estabelecer práticas seguras e eficazes, garantindo que essa população receba o cuidado adequado e informado que merece.
Referência Bibliográfica
- Nik-Ahd F, Jarjour A, Figueiredo J, Anger JT, Garcia M, Carroll PR, Cooperberg MR, Vidal AC, Freedland SJ. Prostate-Specific Antigen Screening in Transgender Patients. Eur Urol. 2022. Prostate-Specific Antigen Screening in Transgender Patients